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quarta-feira, julho 23

Uma declaração de amor

Minhas fantasias eróticas sempre foram temperadas por desejos inusitados que me tomam de repente tornando-se uma fixação até que consiga realizá-las.


Imaginar é para mim uma forma de concretizar o que desejo. Nelas busco inspiração para me entregar na loucura da forma que mais gosto de fazer amor. Desde que nos conhecemos, realizamos tudo que imaginamos e há muito tempo vinha fantasiando realizar mais um dos meus desejos malucos nos nossos encontros intensos.

A ideia fixa de fazer amor com ela na formalidade profissional, me enlouqueceu de excitação, e, ao vê-la séria, trabalhando, só ficava imaginando as loucuras descaradas que sempre fazemos na cama.

Naquele dia, correndo contra o relógio para chegarmos a tempo numa reunião depois do almoço, acabou não podendo passar em casa para trocar de roupa e se preparar para a palestra que teria no final da tarde. Não que estivesse menos linda e deliciosa vestindo jeans e camiseta. Mas a vontade de realizar a fantasia naquele dia em especial me fazia ficar imaginando-a vestida com a roupa que tinha separado para ir ao compromisso.

O tempo que calculamos para chegarmos foi insuficiente por causa do trânsito infernal. Almoçamos próximo ao escritório e enquanto ia à reunião ela iria ao salão em frente ao prédio que estava adiantando-se para o compromisso de mais tarde.

Não demorou muito para concluir o que tinha ido fazer e estava com uma animação pouco comum ao meu jeito de ser. Talvez fosse porque tudo tinha dado certo na reunião. Acho mesmo que toda aquela animação era por ficar maquinando o que faria para realizar a fantasia. Sentia uma excitação que mal podia conter.

Estava no salão do outro lado da rua. Vi que não tinha terminado e desci para atravessar na faixa. O trânsito estava menos intenso, mas o movimento ainda era grande. Parei na calçada esperando que os carros passassem. Estava com os pensamentos tão distantes e tão concentrados nela, que pareceu uma eternidade o tempo que o farol demorou para ficar vermelho e pudesse atravessar.

Com os cabelos lindamente escovados e um sorriso delicioso, estava sentada enquanto a manicura retirava as cutículas. Eu falava como tinha sido a reunião sem conseguir desviar a atenção das mãos dela sendo cuidadas pela profissional habilidosa. Esmalte no tom certo, unhas no tamanho exacto, o formato dos dedos... Mãos elegantes, firmes, e, ao mesmo tempo, suaves. Perfeitas! Como tudo nela para mim.

Ao terminar o ritual do escolhe-esmalte-pinta-unha e eu ter tomado dois cafés num curtíssimo espaço de tempo, ela pagou e fomos para o estacionamento pegar o carro.

Andava ao seu lado olhando-a o tempo todo. Quanto amor, quanta ternura sentia por ela naquele momento!... Não sei até hoje qual o grau de reciprocidade desses sentimentos que tenho. Mas a química que me uniu a ela foi tão perfeita, que até hoje não consigo pensar num sentimento tão intenso dado à outra mulher. Pensava nisso vendo-a dirigir no caminho para casa.

Teríamos um pouco mais de tempo e ela poderia arrumar-se tranquilamente. Ao chegarmos percebi que estava tensa ou concentrada demais. Perguntei se queria chá e respondeu que não, despindo-se no banheiro. Fui para a cozinha preparar o chá para mim enquanto conversávamos. Falamos algumas coisas e ao sair do banho fiquei encostada na porta do quarto observando-a se arrumar como não tinha tido a oportunidade de ver.

Passou creme pelo corpo, vestiu o sutiã, a calcinha, a blusa e a calça. Calçou os sapatos e maquilhou-se enquanto eu a olhava com fascinação. Para ficar ainda mais linda, ajeitou os cabelos e vestiu o terno. A boca maravilhosa, que tanto adoro, convidativa e sensual por causa do bâton, era uma tentação para um beijo roubado. O cheiro delicioso do perfume e do hidratante, o contraste da cor das roupas com a pele... Tudo perfeitamente em harmonia, aumentando o charme desconcertante que sempre me fez perder o rebolado até mesmo quando olhava para mim. Nem passou pela minha cabeça chegar perto dela naquele momento. Não queria interromper sua concentração enquanto lia mais uma vez o texto para a palestra sentada no sofá.

Fui para o quarto ver o movimento da rua pela janela, ouvindo-a ler em voz baixa. Ao terminar, levantou-se, despedindo-se de mim com um abraço, dando-me um beijo na boca quase sem encostar os lábios para não estragar a maquilhagem. Voltei para o quarto, terminando o chá, olhando o intenso vai e vem de carros lá em baixo.

Arrumei as coisas, troquei de roupa e saí para dar uma volta, espairecer um pouco e deixar que o tempo passasse. Era sempre entediante ficar sem ela ou ter que espera-la. Sair para ver o anoitecer, as pessoas bebiam e conversavam nos bares da redondeza, o cheiro de pão recém-saído do forno das padarias, o colorido das cantinas, a simpatia e a hospitalidade do tendente de uma mercearia fazendo questão de me mostrar como eram feitos os pães italianos preparados artesanalmente, o sabor do vinho seco provado de olhos fechados... Tudo fez com que o tempo sem ela passasse e eu nem percebesse a espera.

O escoar das horas foi quase imperceptível. A minha fascinação dedicada a ela todos os dias, foi completamente substituída pela beleza da igreja com suas paredes pintadas detalhadamente com passagens bíblicas e imagens de santos diversos. Tudo cuidado com muito esmero. Ouvia cada palavra dita sobre os detalhes daquela lindíssima obra de arte gigante, que uma devotada e simpática fiel esmiuçava para mim.

Contou sobre a famosa festa, sobre a dedicação do padre que idealizou e realizou a obra e que, em breve, comemorariam a canonização dele. Saí de lá com o espírito e a alma repletos pela beleza dos ritos católicos, sempre tão familiares para mim, mas que há tempo tinham sido esquecidos. Durante a missa, senti no aconchego da casa divina que a concepção da existência de Deus estava completamente alinhada com meu estado de espírito naquele momento de felicidade e paz.

Quando cheguei a casa, ela ainda não tinha chegado. Fui tomar banho para esperá-la, e, ouvindo música, repassava cada detalhe do passeio para escrever no meu diário que procurava manter actualizado mesmo quando estava com ela.

Estava terminando quando o telefone tocou. Era ela avisando que chegaria logo e se queria sair para comer. Continuei me aprontando, pensando no que faria para surpreendê-la quando chegasse. É claro que agora não deixaria de realizar a fantasia. Só não conseguia pensar em nada criativo. Acho que o excesso de ansiedade e desejo estava impedindo a minha imaginação fértil. Mas com certeza saberia o que fazer para tornar aquele momento inesquecível como todos os outros.

A campainha tocou e ao olhar pelo olho mágico a vi sorrindo. Abri a porta sorrindo também, terminando de vestir a blusa. Esperou fechar a porta para poder me beijar. Segurei a pasta e a bolsa retribuindo o beijo e ali mesmo comecei a agarrá-la, encostando-a na parede, passando a mão pelo corpo, nos seios, no sexo, arrancando nossas roupas, tudo ao mesmo tempo, numa urgência maluca e afogada que nem podíamos pensar direito. Retribuía à loucura me abraçando, me beijando, me tocando, no mesmo fogo, naquele desejo cada vez mais descontrolado, da explosão de prazer que sentíamos com tanta intensidade.

A calcinha, um impedimento sempre propositado, me fazia provocá-la, passando a mão por cima do púbis coberta pelo tecido macio, sentindo o sexo molhado, pulsando na pressão do meu toque, enquanto a beijava na ânsia minuciosa do nosso beijo deliciosamente imoral. A boca, o pescoço cheiroso, os seios, mordendo os mamilos arrepiados ao sentir o contacto com o calor da língua que os sugava de leve.

Sentia o corpo entorpecido pelo prazer de sentir o dela. A minha excitação trémula me fazia entregue à loucura voluptuosa da busca de saciar aquele prazer que estávamos sentindo, com a entrega absoluta de amor e sentimento que nos unia de uma maneira tão especial.

A entrega sem limites, à emoção e o prazer, tudo, que por mais que tente, por mais que procure palavras agora, não consigo nomear os sentimentos e reproduzir as sensações. Talvez seja por isso que busco incessantemente aperfeiçoar a minha maneira de contar as coisas através da escrita. É uma forma de encontrar o que falta para descrever os sentimentos que tenho por ela de forma tão especial.

Sem nos soltarmos, fomos para a cama. Deitei por cima dela tirando a calcinha, sentindo seu sexo molhado ao tocá-la e penetrá-la com carinho. Beijávamos-nos o tempo todo. Nossas línguas confusas no despudor ofegante roçavam os lábios, enquanto ela sussurrava baixinho, pedindo para gozar, espelhando no seu olhar o prazer que sentíamos. Desci a língua pelo corpo, chupando de leve cada parte, descendo pela barriga até chegar ao clitóris separando-o com suavidade e tocando profundamente onde sentia mais prazer. O calor suave, o gosto, a textura... Erguia os quadris para que naquela ida e vinda sentisse a penetração da língua que a masturbava enquanto me tocava para ela.

Senti-la e vê-la gozando na pureza dos nossos sentimentos à flor da pele, do prazer absoluto, me fez gozar também ao continuar me tocando enquanto ela me observava, tocando meu sexo junto comigo.

Com o corpo encaixado no meu, me olhava nos olhos, sorrindo ao me ver quase desfalecer por causa do prazer que sentia. Acalmava o tremor do meu corpo, abraçada comigo, depois que deixamos o desejo e o tesão fluírem com tanta intensidade. Fiquei sentindo nossa respiração ficando mais calma, respirando o delicioso cheiro dos cabelos e o calor da nuca, sentindo a maciez e a suavidade do beijo, num misto de ternura e continuação do desejo que entre nós nunca acaba.

Sentia o suave pulsar do sexo e a humidade sensual, ainda com o seu gosto em minha boca e seu cheiro completamente confuso no meu. O toque das mãos, a sensação de sentir a sua pele na minha, de tê-la encostada em mim, era como sentir o toque subtil de uma seda macia. Indescritível a sensação de tudo isso nesse turbilhão de emoções que tenho por amá-la ou simplesmente por tê-la em minha vida.

Sinto tudo indefinidamente em detalhes ao fazê-la minha em minhas lembranças, emoções e sentimentos no amor surgido na loucura dos desejos, na pureza e no desvario da nossa imoralidade ingénua, descompensada agora pela necessidade da distância que o destino trouxe na medida incerta para os nossos sentimentos mais sinceros.

Guardo comigo essas lembranças na eternidade dos meus sentimentos como guardo a um tesouro de valor incalculável e jamais esquecido porque simplesmente não quero que seja. É que o amor, nos seus caprichos diversos, se for apenas guardado como um sentimento qualquer acaba perdendo a sua essência.

Não quero esquecer que a amo. Mesmo que para amá-la seja em minha solidão.

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